SEM O CINE ODEON, FESTIVAL DO RIO SE REORGANIZA COM NOVAS PROPOSTAS
Com orçamento de cerca de R$ 8,5 milhões, o festival começa no dia 24 e segue até 8 de outubro. O filme de abertura será “O sal da Terra”, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado. A produção, que recebeu o Prêmio Especial do Júri da mostra Un Certain Regard, no Festival de Cannes, é um documentário sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, pai de Juliano. Já o longa de encerramento será “Trash: A esperança vem do lixo”, do inglês Stephen Daldry, obra rodada no Brasil.
Porém, diferentemente do que ocorreu em outros anos, nesta 16ª edição nem o filme de abertura, nem o de encerramento e nem mesmo as obras da Première Brasil serão exibidas no Cine Odeon, um dos mais queridos cinemas do Rio. O Odeon foi inaugurado em 1926 e é a última das grandes salas da Cinelândia, praça do Centro da cidade que não recebeu esse nome à toa, mas cujos cinemas foram sendo vendidos para diferentes negócios ao longo dos anos.
Só que o Odeon, que é de propriedade do Grupo Severiano Ribeiro, mas é administrado pelo Grupo Estação, está fechado desde o início de junho, à espera de verbas para uma reforma.
— O Odeon é uma sala antiga, que precisa de muitos cuidados. Então a gente foi se dando conta de que não haveria tempo para que ela reabrisse para esta edição — conta Ilda Santiago, diretora-executiva do Festival do Rio e uma das sócias do Grupo Estação. — E é uma mudança que nos obrigou a repensar a programação e criar um novo local de encontro para o festival. Esse local será o Cinépolis Lagoon.
Assim, pela primeira vez as seis salas do Lagoon, um complexo aberto em dezembro de 2010 à beira da Lagoa, estarão dedicadas exclusivamente ao Festival do Rio. A ideia é que as sessões de gala mais disputadas ocupem ao menos quatro salas do espaço, com exibições simultâneas de cada filme. Por exemplo, nas sessões dos filmes de ficção da Première Brasil, que nos cerca de 600 assentos do Odeon vinham sendo completamente tomadas por convidados, no Lagoon poderão ter uma sala exclusiva para o público que comprar ingressos.
— Três salas do Lagoon representam o número de lugares do Odeon. Os filmes mais disputados da Première vão ganhar mais lugares — diz Ilda.
Outra novidade é que a antiga mostra dedicada a filmes do universo gay foi completamente abolida, por a direção do evento entender que os filmes, tais como as pessoas, não se diferenciam por orientação sexual. Portanto, haverá tantos filmes com personagens homossexuais quanto nas edições passadas, mas eles estarão espalhados nas demais mostras: será o caso, por exemplo, do aguardado “O amor é estranho”, de Ira Sachs, filme que conta com John Lithgow e Alfred Molina no elenco e que teve o roteiro escrito pelo brasileiro Mauricio Zacharias em parceria com Sachs.
Mas, se por uma lado a mostra gay deixará de existir, por outro o Festival do Rio vai ganhar seu primeiro prêmio voltado para obras de conteúdo LGBT. O novo troféu vai se chamar Felix e foi criado sob inspiração e com o apoio do Prêmio Teddy, oferecido desde 1987 a produções que participam do Festival de Berlim. O nome Felix foi escolhido por ser a tradução de “feliz” para o latim. E o Festival do Rio, assim como é feito em Berlim, também vai destacar em sua programação uma lista dos filmes aptos a disputar o Felix — ou seja, os filmes que outrora poderiam ocupar a finada Mostra Gay.
Sem preconceito de gênero, cor ou idade, a lista de obras que estarão no festival é gigante, com destaque para renomados cineastas internacionais. Cronenberg vai exibir seu “Mapa para as estrelas”; Fincher, “Garota exemplar”; Linklater, “Boyhood: da infância à juventude”; Leigh, “Mr. Turner”; Makhmalbaf, “O presidente”; Loach, “Jimmy’s hall”; Clark, “O cheiro da gente”; Dolan, “Mommy”; Miike, “Por cima do seu cadáver”; Kim Ki-Duk, “Dente por dente”; Reitman, “Homens, mulheres e filhos”; e Wiseman, “National Gallery”.
O país homenageado será o México, com uma mostra de filmes de jovens diretores e também alguns clássicos — entre eles o novíssimo “Güeros”, de Alonso Ruizpalacios, premiado nos festivais de Berlim e Tribeca, e o antigo “O compadre Mendoza” (1934), de Juan Bustillo Oro, em cópia recém- restaurada. O Festival terá, ainda, uma mostra Midnight Música, com documentários do porte de “Finding Fela!”, de Alex Gibney, sobre Fela Kuti; “20.000 days on Earth”, de Iain Forsyth e Jane Pollard, sobre Nick Cave; “Björk: Biophilia live”, de Nick Fenton e Peter Strickland; e e “David Bowie is”, de Hamish Hamilton. E, voltando às origens do cinema, o Estação Botafogo, terá exibições de cinco clássicos mudos de Alfred Hitchcock, acompanhados pelo piano de Carlos Eduardo Pereira.
Haverá, também, a disputa pelo troféu Redentor, dado aos melhores filmes da Première Brasil, cujos títulos foram anunciados há uma semana e incluem “O fim e os meios”, de Murilo Salles, “O fim de uma era”, de Bruno Safadi e Ricardo Pretti, e “Casa grande”, de Fellipe Barbosa. O júri da mostra ainda não foi todo fechado, mas seu presidente será o diretor brasileiro Karim Aïnouz.
Fonte: O Globo