AO SOM DAS PERNAS PRO AR, POR MARIZA LEÃO
Ambos expressam a riqueza do cinema brasileiro e são motivos para comemorarmos a força de uma cinematografia que só avança. Portanto, estranho e lamento que proliferem comentários de desdém sobre um ou outro filme, como se a existência de um fosse uma ameaça ao outro.
Afirmações que desqualificam os valores de produção e talentos ligados às recentes comédias brasileiras mais dão conta de uma rejeição prévia do que de uma análise das obras em si. Não há gênero “menor”: fazer rir é tão ou mais difícil do que fazer chorar, tão ou mais difícil do que fazer pensar. Todo e qualquer filme é um desafio.
Há longos anos na atividade, sempre aceitei as críticas. Mas críticas agressivas feitas por colegas de profissão me causam profundo mal-estar. Ao ter seu trabalho reconhecido, um cineasta deveria olhar para aqueles que também estão em busca de aplausos. Desmerecer o que é diverso do que fazemos alimenta uma autofagia irresponsável. Quero aplaudir todos que se dedicam a construir uma cinematografia forte no Brasil.
Por sua natureza, o cinema é arte e também indústria. Anualmente são produzidas milhares de horas de material, distribuídas entre uma diversidade de gêneros e orçamentos. Esse mercado envolve bilhões de dólares -e o Brasil é um dos cinco maiores do mundo. Temos, sim, a responsabilidade de mantê-lo ativo, pois isso representa geração de empregos e até mesmo influi na balança comercial de nosso país.
A produção de “De Pernas pro Ar 2” levantou R$ 3,2 milhões de recursos federais incentivados. Seu custo total foi da ordem de R$ 12,5 milhões e seu lançamento contou com mais de 700 cópias, sendo exibido em praticamente 90% dos municípios brasileiros que dispõem de salas de cinema. O projeto envolveu cerca de 120 técnicos e 25 atores.
Segundo estudos feitos pela RioFilme, o longa gerou um PIB de R$ 66 milhões, pagou R$ 8,8 milhões de impostos federais, R$ 1,6 milhão de impostos estaduais e R$ 3,9 milhões de impostos municipais.
Para atingir esses resultados, foi necessária a participação de profissionais empenhados em tornar “De Pernas pro Ar 2” o filme com maior bilheteria do verão de 2013. Além dos distribuidores envolvidos, a participação da Globo Filmes -com seu know-how para que o filme tivesse a visibilidade compatível com suas ambições- merece ser destacada.
E não é possível entender o resultado dos filmes da “retomada” sem compreender o papel da Globo Filmes. Apoiando obras que vão de “Tropa de Elite 2” a “Anjos do Sol”, de “Se Eu Fosse Você” a “Corações Sujos”, de “Meu Nome Não É Johnny” a “5X Favela”, a entrada da Globo Filmes no mercado representa uma conquista para o crescimento do cinema brasileiro. Há lugar para todos: filmes que ambicionam reflexões profundas e os que conquistam o espectador competindo com blockbusters estrangeiros.
Ao longo de quase 30 anos, produzi filmes de naturezas diversas. De “O Sonho Não Acabou” ao “Homem da Capa Preta”, de “Meu Nome Não É Johnny” a “Apenas o Fim”, de “De Pernas Pro Ar 1 e 2” a “Guerra de Canudos”, espero que nos próximos anos eu consiga manter essa diversidade. E espero ainda poder encontrar em cada diretor, técnico, ator ou exibidor um aliado para levar adiante os meus sonhos.
MARIZA LEÃO, 60, é produtora de cinema
Fonte: Folha Online