— Selecionamos um lote inicial com 128 horas de curtas. São cerca de 180 filmes, para as faixas de curtas do canal, que vai exibir também ficção e muitos documentários independentes, de média e longa-metragem, brasileiros e internacionais, vindos de quase 300 fornecedores estrangeiros, como Arte, Europe Images, Channel4 e Endemol — diz o diretor da emissora, Julio Worcman, fundador do Porta Curtas, portal eletrônico criado há dez anos para catalogar e exibir filmes no formato.
‘PERSONALIDADE PECULIAR’
Já estão previstos para a grade do Curta! filmes premiados, como “A distração de Ivan” (2010), de Gustavo Melo e Cavi Borges, “Eu queria ser um monstro” (2009), de Marão, “O teu sorriso” (2009), de Pedro Freire, “Neguinho & Kika” (2005), de Luciano Vidigal, “Uma estrela pra Ioiô” (2003), de Bruno Safadi, e “Deus é pai” (2000), de Allan Sieber.
Realizadores e curadores de festivais do setor vão apresentar programas na emissora. Segundo Worcman, os curtas brasileiros evitam “choques estéticos” nos canais de conteúdos predominantemente gerados do exterior, como o Universal, no cumprimento das cotas de conteúdo independente brasileiro, de 310 minutos por semana.
— Os curtas são de mais fácil contextualização para contornar o que venho chamado de um potencial “choque estético visual” entre, por exemplo, seriados americanos e obras audiovisuais brasileiras independentes, pois estas, em sua maioria, carregam uma personalidade bastante particular — diz.
Lar de êxitos de bilheteria do estúdio responsável por sucessos como “Jurassic Park” (1993), o Universal é o canal de conteúdo estrangeiro que mais vem promovendo o ingresso de curtas em sua grade, iniciado em setembro. Há espaço para o formato em sua programação, na sessão Universal Curtas, toda sexta-feira, às 18h, idealizada a partir de uma parceria curatorial com o Canal Brasil. Já foram exibidos, entre outros, os filmes “Historietas assombradas (para crianças malcriadas)” (2005), de Victor-Hugo Borges, “Muito além do chuveiro” (2008), de Poliana Paiva, “Dossiê Rê Bordosa” (2008), de Cesar Cabral, “Formigas” (2009), de Carolina Fioratti, “Sinistro” (2000), de
Rene Sampaio, e “A hora vagabunda” (1998), de Rafael Conde.
— Boas histórias e grandes personagens cabem em qualquer formato. Desde a estreia deste novo espaço, a reação do público foi muito positiva. Os curtas já estão entre os 15 programas mais assistidos do canal. — diz André Auler, gerente de programação do Universal.
Todos os títulos exibidos por sua emissora vêm de uma triagem dos ganhadores do Prêmio Aquisição, láurea concedida pelo Canal Brasil aos concorrentes dos principais festivais nacionais, como Gramado, Brasília e Cine PE, a partir da decisão de um júri de críticos.
Atualmente, o canal, criado há 14 anos como um bunker para o cinema nacional, dedica 16 horas de sua programação semanal aos curtas.
— Fora seus horários fixos de exibição (de segunda a sexta, às 21h e às 8h; aos sábados, maratona a partir das 13h), também são veiculados curtas ao longo de toda a nossa grade, funcionando como interprogramas, que emprestam qualidade ao intervalos — diz Alexandre Cunha, gerente de programação do Canal Brasil, que tem exibido curtas consagrados como “Ismar”, de Gustavo Beck, “Ensaio de cinema” (2010), de Allan Ribeiro, e “Imagine uma menina com cabelos de Brasil” (2010), de Alexandre Bersot.
NO CINEMA, LEGISLAÇÃO NÃO CUMPRIDA
Na TV aberta, os curtas também encontram um lar, tendo como principal vitrine a TV Brasil. Semanalmente, o formato ganha espaço nos programas “Animania”, aos sábados, às 17h30m, e “Curta TV”, no mesmo dia, à 0h15m.
Apesar da ampliação do espaço na telinha, cineastas e produtores militantes do formato ainda esperam que volte a ser cumprido o artigo 13 da lei 6.281/75, a chamada Lei do Curta. Criada há 37 anos, determina que as salas de exibição apresentem um curta-metragem nacional antes de cada longa-metragem estrangeiro. Embora nunca tenha
sido extinta, parou de ser aplicada desde a década de 1990, quando a Embrafilme foi extinta no governo de Fernando Collor. Há seis anos, graças a um movimento capitaneado pelo cineasta Marcelo Laffitte, o Ministério Público Federal encampou a causa do setor e recomendou que a Agência Nacional do Cinema regulamentasse a lei. Mas a prática não voltou desde então.
Fonte: O Globo