Segundo o Mapeamento da Indústria Brasileira e Global de Jogos Digitais, estudo produzido pela Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (FUSP) e divulgado pelo BNDES em 2014, existem 133 empresas nacionais especializadas no desenvolvimento de games. Além destas, há um número incontável de produtores independentes, que cresceram junto com o surgimento de novas plataformas on-line de distribuição, como lojas virtuais para smartphones e tablets.
— Os programadores e designers de games não precisam mais de uma grande produtora para ter seu produto conhecido no Brasil ou no mundo. E isso é um incentivo para os jovens vidrados em jogos digitais — ressalta Gabriel Pinto, chefe de Desenvolvimento Setorial da Área Criativa da Firjan.
Na sua avaliação, empresas de diferentes segmentos passaram a encarar o setor de games como uma oportunidade para aprimorar serviços. Os jogos eletrônicos não são produzidos apenas para uso em entretenimento, mas também em projetos educativos, simuladores de operação em plataformas de petróleo e em treinamentos corporativos.
Muitas organizações ligadas à mídia estão estruturando departamentos internos para a elaboração de jogos digitais. Companhias dos segmentos de educação e de óleo e gás, por sua vez, contratam empresas desenvolvedoras de games para criar produtos específicos para seus negócios.
— Há um movimento de ‘gamificação’ em algumas empresas. Na Firjan, por exemplo, já usamos games para avaliar a satisfação dos funcionários. Isso, sem dúvida, cria novos campos de atuação para os profissionais — avalia Gabriel Pinto.
ÁREA ABRANGENTE
De acordo com a Abragames (Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais), a maior parte dos ‘gamers’ está em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. Por ano, cerca de 500 jovens são graduados em game designer no Brasil. Mas o setor absorve também engenheiros de software e pessoas formadas em ciências da computação, música, design gráfico, cinema, letras etc.
— É um segmento muito abrangente, mas que ainda não encontra espaço em grandes empresas no Brasil. Por aqui, contamos muito com pequenas e médias desenvolvedoras, que atuam como no esquema de startups de tecnologia — pontua a diretora executiva da Abragames, Eliana Russi.
Capacitação é importante e influencia diretamente no salário dos profissionais, destaca Esteban Clua, coordenador do Centro de Pesquisas MediaLab, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e especialista em jogos eletrônicos. Um profissional recémformado tem salário de R$ 3,5 mil. Para os sêniores, a remuneração é de cerca de R$ 7 mil. Aqueles com especialização e vasta experiência podem obter ganhos acima de R$ 8 mil.
Os valores não chegam aos pés dos oferecidos nos Estados Unidos, onde os recém-formados, com habilidade acima da média na criação de games, chegam a ganhar US$ 10 mil (cerca de R$ 30 mil), segundo Eliana Russi. Canadá e França também valorizam os ‘gamers’. Não por acaso, afirma Gabriel Pinto, muitos brasileiros saem daqui para buscar oportunidades no exterior. O Brasil exporta talentos nessa área.
POUCOS CURSOS
Ainda são poucos os cursos de nível superior e pósgraduação voltados para o setor de games no Brasil. No Rio de Janeiro, a UFF oferece mestrado e doutorado em ciências da computação, com ênfase em jogos eletrônicos. Na Unicarioca, existe uma pós em jogos e animação digital. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRJ) tem ensino superior de tecnologia em jogos digitais.
A unidade Maracanã do Senai oferece curso técnico para jovens. Segundo Luis Arruda, gerente-executivo da escola, desde 2012, quando o ensino técnico voltado para games foi criado, a procura triplicou. Hoje são três turmas por ano, que abrigam 120 alunos. Não raro, empresas, empreendedores e diretores de estúdios de desenvolvimento de jogos digitais vão ao Senai recrutar os formandos.
— O mercado brasileiro de games continuará crescendo. São mais de 50 milhões de usuários de internet pelo celular no país e cerca de 40% dos aplicativos inseridos nos smartphones estão associados a jogos. É um mercado vasto, com potencial para oferecer muitas oportunidades. Embora o mercado de games tenha crescido bastante nos últimos anos, é difícil encontrar profissionais qualificados para atuar nessa área, avalia Thiago Nascimento, diretor-geral da Nuuvem, que vende jogos para download pela internet. A empresa tem 13 funcionários contratados e quatro terceirizados das áreas de engenharia de software e tecnologia da informação. Os salários giram em torno de R$ 7 mil.
A Nuuvem tem um programa de capacitação e treinamento para novos colaboradores e pretende contratar mais dois desenvolvedores e profissionais para as áreas de negócios, marketing e suporte. A tarefa de encontrar pessoas gabaritadas disponíveis para trabalhar nesse setor não está sendo fácil, afirma Thiago.
— Por isso eu digo que é uma carreira promissora. À medida que o mercado brasileiro de games amadurece, mais profissionais são demandados. E os mais capacitados estarão na frente daqui a alguns anos.
Rafael Bastos, sócio fundador da Dumativa, desenvolvedora de jogos digitais, tem a mesma opinião. Para ele, falta mão de obra qualificada e empreendedores nessa área. Encontrar pessoas que aliem a formação técnica com a gerencial é um dos principais desafios. Até o fim do ano, ele pretende contratar mais três funcionários.
— Às vezes, o profissional sabe tudo sobre como desenhar e criar um roteiro para um jogo, mas não tem noções de como empreender e cuidar do negócio, que é muito importante.
TENDÊNCIAS
Para o animador Glauber Kotaki, os ‘gamers’ devem acompanhar as tendências e novidades do mercado. Há 10 anos nesse setor, ele afirma que jogos de realidade virtual (como aqueles que colocam o jogador dentro de carros de corrida, robôs gigantes e naves espaciais) ganharão cada vez mais espaço. Aqueles que se especializarem nesse segmento, terão mais chances de crescer.
— Esse setor é muito dinâmico e exige que se invista no conhecimento de novas tecnologias que vão surgindo.
Mas os três concordam que paixão é o ponto em comum entre os que atuam na área de jogos eletrônicos. Em geral, são usuários de games desde a infância que sempre tiveram o sonho de trabalhar com isso. A possibilidade de inovar é o que mais os atrai.
— Eles têm muito prazer em criar, é como se estivessem trabalhando com o próprio hobby. São engajados em desenvolver produtos relevantes, diferentes e com personalidade e usam a paixão pelo game para concretizar isso — complementa Rafael.
Fonte: O Globo