A acessibilidade está cada vez mais sendo abordada e implementada no mercado cinematográfico e, neste sentido, a Ancine possui medidas regulatórias para que produções estejam de acordo com as necessidades do público com deficiência. Para o coordenador de Análise Técnica de Regulação, Akio Nakamura, o marco inicial foi a publicação da Agenda Regulatória 2013/2014, onde foi incluído pela primeira vez o tema, com a matéria “Regulamentação de dispositivos que garantam o acesso a bens audiovisuais por pessoas com deficiência, observando a acessibilidade como tema transversal em todos os normativos aplicáveis da agência.”
“Dos 114 títulos nacionais lançados desde o ano passado, praticamente todos contavam com este recurso”, informou Nakamura. Hoje, os recursos repassados para as empresas elaborarem curtas-metragens e obras para televisão vêm com cláusulas que se espelham na norma da acessibilidade para longas. “As ações da Ancine não se encerram por aqui, pois pensamos em acessibilidade como um princípio”, finalizou.
O pioneirismo no Brasil em incluir pessoas com deficiência no cenário audiovisual foi citado pela produtora da Lavoro Produções, Lara Pozzobon, que contou que a produção de um curta em 1999 sobre deficientes – convidado a ser apresentado em um festival na Alemanha – a levou ao conceito de acessibilidade. “Não existia audiodescrição nem outras coisas. Como convidaríamos pessoas cegas para assistir um filme que falava justamente sobre eles?” indagou Lara. A partir daí a produtora se aprofundou no tema e, em 2003, passou a realizar o Festival Assim Vivemos, onde todos os filmes apresentam audiodescrição e legendas com indicação.
Já os recursos técnicos foram abordados pelo representante da CLP, Augusto Costa. Segundo ele, a parte técnica é um pouco mais complicada por não existir um padrão entre as tecnologias disponíveis para exibição de filmes em salas de cinema, por isso é importante estudar quais recursos serão utilizados e em que plataforma será exibido. “Para saber qual padrão utilizar, o ideal é conversar diretamente com o produtor”, disse Costa, considerando fundamental escutar pessoas que usarão estes recursos diretamente. “Você pode achar que tem uma solução genial, mas uma pessoa deficiente, após testá-la, pode te mostrar que está errado”, alertou.
Passar esse feedback para as produtoras é a especialidade da consultora Moira Braga, que é bailarina, atriz e possui deficiência visual. “O trabalho do consultor é importante para mostrar se o que está sendo feito atenderá as necessidades”, afirmou Moira.
O primeiro programa brasileiro totalmente dedicado a pessoas com deficiência foi tema da palestra da diretora da TV Brasil, Ângela Reiniger. O “Programa Especial” está no ar desde 2004 e seus episódios sempre contam com audiodescrição, legendas e Libras. “Na hora de uma gravação, devem ser considerados aspectos como, por exemplo, não colocar algo importante no lado que costuma ficar o intérprete de Libras”, declarou Ângela, usando trechos do seu programa para ilustrar este tipo de produção.
As novas tecnologias para a acessibilidade foram apresentadas por Luis Mauch, um dos idealizadores da WhatsCine, empresa que transmite recursos inclusivos através de um aplicativo de celular. “A disponibilidade destes recursos faz com que um deficiente tenha igualdade de condições”, disse. “Acredito em um futuro em que a acessibilidade no audiovisual será algo normal e comum, e não restrito a uma pequena quantidade de produções como nos dias de hoje”, completou ele.
(Gabriel Adão/ Movimento Sindical FIRJAN)