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CRISE EM CARTAZ


O pequeno número de espaços nas ruas contrasta com o da década de 1960, quando havia 198 cinemas na capital. Além disso, 62 deles comportavam plateias superiores a mil lugares. Um exemplo era o Cinema Olinda, aberto em 1940, na Praça Saens Peña, na Tijuca, que acomodava até 3.158 espectadores. No local, funciona hoje o Shopping 45. O bairro, aliás, espelha bem o que aconteceu na cidade. Em meados do século passado, a Tijuca chegou a ter 16 cinemas de rua. Atualmente, não há nenhum, apenas em shopping (seis salas).


— O processo de decadência dos cinemas no Rio começou na década de 1970, com a popularização da televisão e, mais tarde, dos filmes em VHS. Hoje, existem também a internet e o serviço de assinatura Netflix, que tiraram muita gente das salas de exibição. É uma tendência irreversível. Outro problema também foi a especulação imobiliária em torno dos espaços dos cinemas, privilegiados por serem de grande porte. A maior parte se transformou em igrejas (como foi o caso do Carioca, na Tijuca), estacionamentos e outros tipos de estabelecimentos — diz o vice-presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Gallego.


SHOPPINGS CONTRIBUÍRAM PARA REDUÇÃO


Segundo especialistas, outro fator para o fim dos cinemas de rua foi a multiplicação dos shopping centers a partir da década de 1980. Os centros comerciais logo se tornaram atraentes para as grandes redes, por oferecerem estacionamento e mais segurança ao público. Com o público minguando, ficou cada vez mais difícil manter os cinemas de rua.


— Reclamam do fechamento das salas, mas ninguém frequenta mais cinema de rua. As pessoas preferem ir ao shopping. Uma sala hoje não consegue sobreviver se não tiver uma média de 60 mil espectadores por ano. Esse número está muito distante do que a maioria dos cinemas de rua consegue receber. O processo de digitalização das salas exige que o exibidor consiga fazer caixa, para poder investir na modernização dos espaços. O futuro das sessões em estabelecimentos de rua não é bom. Estimo que aproximadamente 300 salas poderão fechar em todo o país nos próximos anos — diz o diretor do portal Filme B, Paulo Sérgio Almeida.


Apesar da decadência, ainda há quem acredite no futuro do cinema de rua. É o caso de Adil Tiscatti, proprietário há 11 anos do Cine Santa, em Santa Teresa. Há dois anos, ele assumiu a concessão do Cine Candido Mendes, em Ipanema, e reabriu a sala, fechada desde 2008. Tiscatti fez o mesmo com o Cine Museu da República, no Catete, reaberto em abril deste ano, depois de cinco meses fora de operação.


EMPRESÁRIO QUER ABRIR MAIS SALAS DE RUA


Segundo ele, cada cinema tem faturamento bruto mensal de cerca de R$ 65 mil e paga todas as suas despesas. Há dois anos, ajudado por uma verba da Agência Nacional do Cinema, que contempla salas que exibem filmes nacionais, o Cine Santa passou por uma reforma orçada em R$ 120 mil.


— É um mercado pequeno, mas com público fiel. Meu lucro não se compara com o das grandes redes, mas me satisfaz. Acredito tanto nesse modelo que estou estudando um sistema de franquias para bairros com mais de 50 mil habitantes. Meu plano é abrir salas em Madureira, Realengo e Marechal Hermes. São bairros populosos e sem cinemas de rua. O exemplo do Cine Santa mostra que é viável nosso modelo de negócio. Temos cerca de 12 mil moradores do bairro cadastrados no nosso sistema. Em geral, eles não gostam de cinema de shopping. A maioria quer algo próximo. Satisfazer esse tipo de público é o que me motiva — diz Tiscatti.


Dos 16 cinemas de rua, dois — o Odeon, na Cinelândia, e o Glória — estão fechados para obras. Em Copacabana, o Roxy é um sobrevivente de outros tempos. Inaugurado 1938, ele hoje conta com três salas. E tem seu público cativo, como Thereza Puigbonet, de 83 anos, aposentada e moradora do bairro. Ela frequenta o local pelo menos duas vezes por semana.


— Tenho muita saudade do Cinema Caruso e do Metro — disse ela. — Como sempre frequentei cinemas de rua, procuro manter a tradição.


Segundo um estudo da Agência Nacional do Cinema, feito há quatro anos, em 1975 havia 3.276 salas de cinema no país. Em 2010, esse número havia recuado para 2.206, sendo que 17% estavam fora de shoppings.

 

Fonte: O Globo 

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