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GRANDE PRÊMIO DO CINEMA BRASILEIRO CONSAGRA ‘FAROESTE CABOCLO’

 

Admitindo estar “surpreso, mas nem tanto” com a vitória mais importante da noite, o diretor René Sampaio usou o palco do Teatro Municipal, onde aconteceu a cerimônia da premiação, na noite desta terça-feira, para dar um recado aos exibidores:

 

— Qualquer filme, seja pequeno ou grande, precisa ter seu espaço na sala de cinema. Nós, que tivemos um público grande, sabemos como é difícil manter uma sala no Brasil. Queremos que nossos filmes sejam exibidos. Nossa meta é que o governo nos ajude a manter nossos filmes por mais tempo — disse Sampaio, também produtor do filme, que ainda levou os prêmios de fotografia, roteiro adaptado, montagem, som e trilha sonora original.

 

Se o cineasta brasiliense abocanhou o “Oscar nacional” justamente pelo seu primeiro longa, Fabrício Boliveira também pode se gabar de uma conquista pródiga: sua estreia como protagonista no cinema lhe rendeu o Grande Otelo de melhor ator, entregue pelo trio de veteranos Cacá Diegues, Luiz Carlos Barreto e Nelson Pereira dos Santos (que venceu o prêmio de melhor longa-metragem documentário, por “A luz do Tom”).

 

— Opa, acho que ganhei — disse o ator, que perdeu dez quilos para viver João de Santo Cristo. — Agradeço aos encontros que temos na vida, no cinema, no amor e consigo mesmo.

 

Recém-criada pela Academia Brasileira de Cinema para homenagear um dos gêneros mais requisitados pelo público brasileiro, nas palavras do presidente da entidade, Roberto Farias, a categoria de melhor comédia consagrou o fenômeno “Cine Holiúdy”, apelidado de “Titanic do Ceará”, por conta do sucesso que obteve no estado. O filme de Halder Gomes, exibido nos cinemas com legendas por conta do excesso de “cearencês”, também foi considerado o melhor longa de ficção no voto popular.

 

— Não tem nada mais difícil no mundo do que fazer um filme. O cara que faz um filme pode ser astronauta, pode fazer o que quiser na vida — disse o diretor.

 

A dificuldade de se fazer cinema, em especial animação, foi uma observação ecoada também por Laís Bodanzky, produtora de “Uma história de amor e fúria”, de Luiz Bolognesi, que no ano passado foi o grande vencedor do Festival de Annecy, o “Oscar da animação”. Nesta terça, o longa, que tem vozes de Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro, foi coroado com o Grande Otelo na categoria.

 

— Que essa categoria cresça, porque o Brasil merece — pediu Bodanzky.

 

O público ainda elegeu “Elena”, de Petra Costa, o melhor longa-metragem de documentário. No delicado e intenso filme, Costa recria as memórias da irmã, que cometeu suicídio enquanto buscava uma carreira artística em Nova York. Como a diretora está trabalhando em um novo projeto no exterior, coube à mãe das jovens a tarefa de receber o troféu. Acidentalmente, o que se seguiu foi um momento particularmente desconfortável: enquanto ela tentava discursar, Halder Gomes passava por trás, aparentemente sem saber por qual lado do palco sair, provocando risos na plateia.

 

“Django livre”, de Quentin Tarantino, foi eleito o melhor filme estrangeiro, tanto pelo voto popular quanto pelos membros da Academia. “Serra Pelada”, de Heitor Dhalia, que liderava as indicações junto a “Faroeste caboclo”, terminou a noite com os prêmios de efeito visual (em um empate com a animação “Uma história de amor e fúria”), maquiagem e ator coadjuvante — mas Wagner Moura atualmente está na Colômbia, filmando “Narco”, série de José Padilha.

 

As ausências, aliás, acabaram sendo uma forte marca da cerimônia. Glória Pires e Bruno Barreto também não estavam presentes para receber suas estatuetas de melhor atriz e melhor diretor por “Flores raras”, sobre o romance entre a poeta americana Elizabeth Bishop e a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares.

 

De qualquer forma, romance foi o tom dado à festa por Ivan Sugahara, mais uma vez encarregado da direção artística, com as homenagens ao cineasta e dramaturgo Domingos Oliveira. Os apresentadores do evento, o casal Caio Blat e Maria Ribeiro, incorporaram os personagens Paulo e Maria Alice, imortalizados por Paulo José e Leila Diniz no primeiro filme do diretor, “Todas as mulheres do mundo” (1967), cujos trechos, projetados entre os anúncios de cada categoria, serviram como fio condutor do roteiro da cerimônia, assinado por Sugahara e pelo jornalista Rodrigo Fonseca.

 

o fim, acompanhado pela filha Maria Mariana e pelos quatro netos, Oliveira em pessoa subiu ao palco para agradecer ao tributo. Em um longo e engajado discurso, falou sobre otimismo e autoestima (“Você só pode gostar dos outros se gostar de si mesmo, e eu me adoro”) e, como já havia defendido em uma carta lida no Festival de Gramado, propôs a substituição da expressão “filme de arte” por “filme útil”.

 

— O cinema é imprescindível na formação do homem, e não há nada de que o homem precise mais para sua formação do que moral. Claro que deve haver o cinema popular, mas a indústria brasileira de cinema tem que saber fazer o cinema útil — afirmou, sendo aplaudido.

 

E completou:

 

— Foi uma gracinha o que aconteceu aqui hoje.

 

Veja os vencedores do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2014:

 

MELHOR LONGA-METRAGEM DE FICÇÃO

 

Cine Holiúdy

O Som ao Redor

Tatuagem

Faroeste Caboclo

Flores Raras

 

MELHOR DOCUMENTÁRIO

 

A Luz do Tom

Dossiê Jango

Elena

Jorge Mautner – O Filho do Holocausto

O Dia que Durou 21 Anos

São Silvestre

 

MELHOR COMÉDIA

 

Colegas

Meu Passado Me Condena

Minha Mãe é uma Peça

Cine Holiúdy

Mato Sem Cachorro

 

MELHOR FILME INFANTIL

 

Corda Bamba

Meu Pé de Laranja Lima

Tainá – A Origem

Minhocas

 

MELHOR ANIMAÇÃO

 

Uma História de Amor e Fúria

Minhocas

 

MELHOR FILME ESTRANGEIRO

 

A Grande Beleza (Itália)

Azul é a Cor Mais Quente (França)

Amor (Áustria)

Blue Jasmine (Estados Unidos)

Django Livre (Estados Unidos)

 

MELHOR DIREÇÃO

 

Bruno Barreto (Flores Raras)

Halder Gomes (Cine Holiúdy)

Heitor Dhalia (Serra Pelada)

Hilton Lacerda (Tatuagem)

Kléber Mendonça Filho (O Som ao Redor)

 

MELHOR ATOR

 

Edmilson Filho (Cine Holiúdy)

Fabrício Boliveira (Faroeste Caboclo)

Irandhir Santos (Tatuagem)

Irandhir Santos (O Som ao Redor)

Jesuíta Barbosa (Tatuagem)

Wagner Moura (A Busca)

 

MELHOR ATRIZ

 

Fernanda Montenegro (O Tempo e o Vento)

Glória Pires (Flores Raras)

Ísis Valverde (Faroeste Caboclo)

Leandra Leal (Mato Sem Cachorro)

Sophie Charlotte (Serra Pelada)

 

MELHOR ATOR COADJUVANTE

 

Antonio Calloni (Faroeste Caboclo)

Bruno Torres (Somos Tão Jovens)

Jesuíta Barbosa (Serra Pelada)

Matheus Nachtergaele (Serra Pelada)

Wagner Moura (Serra Pelada)

 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

 

Alexandra Richter (Minha Mãe é uma Peça)

Ana Marlene (Cine Holiúdy)

Ângela Leal (Bonitinha, mas Ordinária)

Bianca Comparato (Somos Tão Jovens)

Sandra Corveloni (Somos Tão Jovens)

 

MELHOR FOTOGRAFIA

 

Adrian Teijido (A Busca)

Affonso Beato (O Tempo e o Vento)

Lito Mendes da Rocha (Serra Pelada)

Gustavo Hadba (Faroeste Caboclo)

Mauro Pinheiro Jr. (Flores Raras)

 

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE

 

José Joaquim Salles (Flores Raras)

Juliano Dornelles (O Som ao Redor)

Tiago Marques (Faroeste Caboclo)

Renata Pinheiro (Tatuagem)

Marcelo Escañuela (A Busca)

Tulé Peake (Serra Pelada)

Tiza de Oliveira (O Tempo e o Vento)

 

MELHOR FIGURINO

 

Bia Salgado (Serra Pelada)

Chris Garrido (Tatuagem)

Marcelo Pies (Flores Raras)

Valéria Stefani (Faroeste Caboclo)

Joanna Fontelles (Cine Holiúdy)

 

MELHOR MAQUIAGEM

 

Ancelmo Saffi (Flores Raras)

Auri Mota (Faroeste Caboclo)

Cris Pires (Cine Holiúdy)

Donna Meirelles (Tatuagem)

Siva Rama Terra (Serra Pelada)

 

MELHORES EFEITOS VISUAIS

 

Uma História de Amor e Fúria

O Som ao Redor

Serra Pelada

Flores Raras

Faroeste Caboclo

 

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

 

André Pereira (Mato Sem Cachorro)

Heitor Dhalia e Vera Egito (Serra Pelada)

Hilton Lacerda (Tatuagem)

Kléber Mendonça Filho (O Som ao Redor)

Halder Gomes (Cine Holiúdy)

 

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

 

Bernard Attal, Iziane Mascarenhas e Sérgio Machado (A Coleção Invisível)

Julie Sayres e Matthew Chapman (Flores Raras)

Marcos Bernstein e Melanie Dimantas (Meu Pé de Laranja Lima)

Marcos Bernstein e Victor Atherino (Faroeste Caboclo)

Nelson Pereira dos Santos e Miucha (A Luz do Tom)

Paulo Gustavo e Fil Braz (Minha Mãe é uma Peça)

 

MELHOR MONTAGEM – FICÇÃO

 

Dirceu Lustosa (Somos Tão Jovens)

Helgi Thor (Cine Holiúdy)

Kléber Mendonça Filho e João Maria (O Som ao Redor)

Letícia Giffoni (Flores Raras)

Márcio Hashimoto (Faroeste Caboclo)

 

MELHOR MONTAGEM – DOCUMENTÁRIO

 

Alexandre Saggese e Luciane Correia (A Luz do Tom)

César Tuma e Verônica Saenz (O Dia que Durou 21 Anos)

Leyda Nápoles (Jorge Mautner – O Filho do Holocausto)

Marília Moraes e Tina Baz (Elena)

Paulo Henrique Fontenelle (Dossiê Jango)

 

MELHOR SOM

 

Alessandro Laroca, Armando Torres Jr. e Eduardo Virmond Lima (Uma História de Amor e Fúria)

Alfredo Guerra e Érico Paiva (Cine Holiúdy)

Jorge Saldanha, Alessandro Laroca, Diego Gat e Lucas Meyere (Serra Pelada)

Leandro Lima, Mirian Biderman, Ricardo Chuí e Paulo Gama (Faroeste Caboclo)

Paulo Ricardo Nunes, Alessandro Laroca e Armando Torres Jr. (Flores Raras)

 

MELHOR TRILHA SONORA

 

Fil Pinheiro (Elena)

Jards Macalé (Jards)

Jorge Mautner (Jorge Mautner – O Filho do Holocausto)

Lina Chamie (São Silvestre)

Paulo Jobim (A Luz do Tom)

 

MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL

 

Antônio Pinto (Serra Pelada)

Carlos Trilha (Somos Tão Jovens)

DJ Dolores (O Som ao Redor)

Marcelo Zarvos (Flores Raras)

Phillipe Seabra (Faroeste Caboclo)

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO

 

Au Revoir, Milena Times

Flerte, de Hsu Chien

Linguagem, de Luis Rosemberg Filho

Os Irmãos Mai, de Thais Fujinaga

Todos os Dias em que Sou Estrangeiro, de Eduardo Morotó

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO

 

A Guerra dos Gibis, de Thiago Brandimarte Mendonça

Até o Céu Leva Mais ou Menos 15 Minutos, de Camilla Battistetti

Contos da Maré, de Douglas Soares

Gericinó, de Gabriel Medeiros e Maria Clara Senra

Luna e Cinara, de Clara Linhart

 

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

 

Engole ou Cospervilha, de David Mussel, Fernanda Valverde, Gabriel Bitar, Giuliana Danza, Jonas Brandão, Marcelo Marão, Pedro Éboli e Zé Alexandre

Faroeste, de Wesley Rodrigues

Graffiti Dança, de Rodrigo EBA

Macacos Me Mordam, de Sávio Leite

O Menino que Sabia Voar, de Douglas Alves Ferreira

Paleolito, de Ismael Lito e Gabriel Calegario

Quinto Andar, de Marcos Nick

Um Dia de Trabajo, de Francisco Rosatelli

 

Fonte: O Globo

 

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