A ideia de levar a história do grupo Clamor para o cinema foi do roteirista Douglas Tourinho, assessor de Imprensa da editora Objetiva na época do lançamento do livro. É dele também o recorte que vai para a tela: a história dos irmãos uruguaios Anatole e Vicky Julien Grisonas (hoje Larrabeiti, sobrenome da família que os adotou), que moravam em Buenos Aires em 1976 e tiveram seus pais assassinados por militares argentinos, levados pelos algozes para o Chile. O reencontro deles com a avó, Angélica de Julien, aconteceu depois de muita luta e com a ajuda do grupo Clamor, criado pela jornalista inglesa Jan Rocha, pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright e com o apoio integral do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo.
“Na época do lançamento, fui arrebatado pela história. Até pela minha formação em Jornalismo e em Cinema, em tudo o que leio, estou sempre buscando um potencial filme”, conta Tourinho, que foi um dos redatores da novela “Lado a lado”, que levou o 41º Emmy Internacional de melhor telenovela em 2013. Houve interesse de outras produtoras na história do Clamor, como da O2 filmes, mas o projeto não prosseguiu. “Samarone, então, me confiou o direito de adaptação”, diz.
Com a concessão, Tourinho inscreveu o projeto em no edital 12/2012, setorial de audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia da Secretaria de Cultura da Bahia e, aprovado, teve tempo e dinheiro para se dedicar ao desenvolvimento do roteiro. “Claro que não é o que vai para a tela, passa por leituras”, diz. “É massa você ver um livro seu virar roteiro de cinema”, comentou Samarone à reportagem. A primeira adaptação em mãos, Tourinho levou para diretora Malu de Martino. “Eu me interessei muito, é uma história que precisa ser contada”, diz Malu, que procurou a produtora carioca Modo Operante, de Susanna Lira, e já fechou parceria com a uruguaia Suerte en Pila. “O roteirista uruguaio Gonzalo Delgado já está trabalhando numa segunda versão do roteiro, uma visão de lá”, diz, sobre o diretor de filmes como “Whisky” (2004).
O processo de produção para o cinema é lento e ainda mais para um filme do porte de “Clamor”, que se passa em várias locações e tem muitos braços de tramas. Mas, como redator, Tourinho não quer se preocupar com isso e deixa a criatividade fluir sem as fronteias dos países nos quais o grupo agiu. “Cabe ao produtor, eu me libertei disso”, brinca.
O projeto ainda está no início, mas começou bem. Malu de Martino diz que já foi iniciada a captação de recursos para execução do filme. “Nesse sentido, o programa Films from Rio é o pontapé inicial do processo. A chancela que a gente ganhou do Sicav (Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual) e RioFilmes abriu três mercados internacionais para o projeto: o Festival Ventana Sur (2016, em BsAs), o Rio Market Festival do Festival do Rio e o Festinal de Cannes de 2017”, diz a diretora sobre as possibilidades já palpáveis para “Clamor” conquistar parcerias e mercado, inclusive internacional. “Ainda não temos elenco confirmado nem locações escolhidas, mas sabemos que vamos filmar nos quatro países”, diz Malu. O lançamento, claro, começa pelo Brasil.
Fonte: Folha de Pernambuco