Para o secretário do Audiovisual do MinC, Pola Ribeiro, o momento é de crescimento da produção audiovisual. “Nossas preocupações principais estão na inovação da linguagem, em novas formas de chegar aos diversos públicos do País, de ampliar o diálogo com a sociedade brasileira e de responder a uma demanda crescente por conteúdos qualificados para o campo público de televisão”, afirma.
Pola Ribeiro ressalta que é preciso buscar cada vez uma mediação de temáticas que abram o diálogo profundo com a sociedade. “Nesse sentido, aumentamos o apoio à produção de filmes de baixo orçamento, que tem se mostrado um mecanismo de inovação – de linguagens, de estética, de temáticas. Lançar estes três editais juntamente com os editais da Ancine (Agência Nacional do Cinema) voltados para as TVs Públicas é significativo, pois apostamos na recomposição e no fortalecimento do campo público de televisão”, observa o secretário.
Editais SAv
O Longa Afirmativo tem como objeto a realização de três filmes inéditos de ficção, com temática livre, dirigidos por cineastas negros. O Longa Infanto-Juvenil apoia nove projetos de filmes inéditos de ficção, com conteúdo destinado ao público infantil ou infanto-juvenil. O Longa BO vai selecionar 10 projetos para a realização de filmes de baixo orçamento, inéditos, de ficção. Os projetos poderão receber até R$ 1.250.000. O orçamento total de cada projeto não pode ultrapassar R$ 1.800.000. As produções dos três editais podem conter técnicas de animação.
FSA e SAv
Em 2014, pela primeira vez, foram lançadas duas chamadas públicas da Secretaria do Audiovisual com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) – para a produção de filmes de longa-metragem de Baixo orçamento (R$ 12 milhões) e de documentários (10 milhões). “Essa coordenação de ações da Secretaria do Audiovisual, da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Fundo Setorial do Audiovisual tem permitido buscar filmes que trabalham a contemporaneidade, desenvolvem um olhar crítico em relação à nossa sociedade, à nossa história e abordam a diversidade brasileira”, pontua Pola Ribeiro.
O diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel, também comemora a parceria: “o Programa Brasil de Todas as Telas – Ano 2 representa a continuidade de uma política pública vigorosa e consistente, pactuada entre Ancine, Ministério da Cultura e Governo Federal. Seguimos apostando na regionalização do investimento pelo FSA, na ampliação de espaços para circulação de conteúdos independentes, no fortalecimento dos catálogos e grades de programação para difusão linear e não linear do produto audiovisual brasileiro e para o fortalecimento da programação das TVs públicas”, ressaltou.
Baixo orçamento
A política de fomento a conteúdos audiovisuais é fundamental para a renovação e permanência do cinema brasileiro. É competência da SAv a descoberta e a formação de novos talentos. O estímulo a produções de longa-metragem de baixo orçamento – conhecido com Longa BO –, por exemplo, é uma ação estratégica e fundamental da Secretaria do Audiovisual para a formação de novos cineastas. Além disso, por não ter que se encaixar na lógica mercadológica, o apoio à produção de filmes de baixo orçamento estimula a inovação da linguagem e da estética audiovisual. O incentivo à experimentação é, ainda, uma competência histórica da SAv.
“Os editais BO são mecanismos importantes para o surgimento de cineastas novos, permitindo que filmes sejam realizados com mais experimentação de linguagem, buscando uma renovação do cinema brasileiro”, avalia o cineasta Giba Assis Brasil. Ele destaca, ainda, a regionalização como fator relevante dos editais de baixo orçamento. “Outro aspecto importante dessa política é o fortalecimento das produções regionais, diversificando o olhar da produção brasileira, criando oportunidades para que cineastas de todas as regiões do Brasil tenham a oportunidade de realizar seus filmes”.
Apesar de ter valores considerados abaixo do mercado, filmes de baixo orçamento, muitas vezes, conseguem alcançar uma boa repercussão nacional – sendo aclamados por público e crítica. Nos últimos 10 anos, a Secretaria do Audiovisual finalizou seis editais para filmes de baixo orçamento e teve 38 filmes contemplados. Essas produções participaram de diversos festivais ao redor do mundo, incluindo cerca de 80 eventos nacionais e 60 internacionais, competindo, ganhando prêmios, visibilidade e reconhecimento da crítica especializada. Em 2014, houve mais uma edição do edital Longa BO, este, pela primeira vez, em parceria com o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
Infância
A Secretaria do Audiovisual já entendeu e consagrou a importância de promover a produção de obras audiovisuais voltadas ao público infantil e juvenil. Em um país tão influenciado pela cultura cinematográfica norte-americana, é fundamental apresentar às crianças e jovens a cultura audiovisual nacional – com sua estética e temática particulares. É por isso que os editais Curta-Criança e Curta Infanto-Juvenil já são considerados como políticas públicas tradicionais da SAv, tendo seis edições já realizadas.
A relação do cinema com a infância e a educação ganha novo vigor com a Lei nº 13.006/2014, que inclui o cinema nacional na grade curricular da educação básica, exigindo a exibição de, no mínimo, duas horas mensais de produção nacional nas escolas. No Ministério da Cultura, foi criado um grupo de trabalho para subsidiar a regulamentação da referida Lei.
Neste novo momento, a Secretaria do Audiovisual aposta no fomento à produção de longas-metragens direcionados ao público infantil. “As histórias das crianças brasileiras têm importância primordial para uma infância saudável, inclusiva e livre de preconceitos. Além disso, no sentido de formação de público, as crianças precisam ver filmes de qualidade feitos aqui”, afirma Luiza Lins, idealizadora da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. “O lançamento deste Edital de Produção de Longa Metragem para o público infantil é uma conquista da sociedade e especialmente das crianças brasileiras e é a certeza que estamos trabalhando para um país mais justo e inclusivo também por meio da cultura”, completa.
Afirmativo
A Secretaria do Audiovisual realizou duas edições do Curta-Afirmativo, em 2012 e 2014, para diretores e produtores negros, com a produção de mais de 60 obras audiovisuais, entre curtas e médias-metragens. “O Edital Afirmativo da SAv/MinC chega em boa hora, considerando que a produção audiovisual é o segmento com o pior indicador de desigualdade racial no Brasil, no qual só encontramos 3% de cineastas afrodescendentes em um universo de mais de 400 realizadores que conseguiram lançar pelo menos um longa-metragem nas salas de cinema”, afirma Joel Zito Araújo, cineasta e doutor em Comunicação e Artes pela ECA-USP.
Para Carol Rodrigues, diretora e roteirista do curta A boneca e o silêncio, contemplado na seleção pública de 2012, o edital curta-afirmativo é uma conquista política fundamental. “Por meio dele, podemos ter acesso aos meios necessários para produzir nossas próprias representações sobre nós mesmos e sobre nossa memória. É uma maneira de contarmos as histórias que estão fora das telas, invisibilizadas no nosso imaginário. Os dados mostram que o cinema brasileiro ainda é essencialmente branco e masculino e editais afirmativos são importantes ferramentas de subversão deste quadro”, avalia.
Vilma Neres, produtora da animação Nana & Nilo e o tempo de brincar, também aponta a relevância de ações afirmativas na cultura. “A importância do Edital Curta-Afirmativo está no fato de que nós, pessoas negras, precisamos falar por nós, sobre nós e como queremos nos ver representadas a partir de um olhar antirracista que contribui e promove para a diversidade étnico-racial da cultura brasileira”, destaca.
Com duas edições voltadas à produção de curtas-metragens, neste momento, a SAv inova ao fomentar a realização de longas-metragens. “Devemos considerar as oportunidades que se abrem para finalmente contemplar a grande emergência de curtas-metragistas negros naturalmente ansiosos em mostrar seus talentos em filmes de longa duração”, pontua Joel Zito Araújo.
Fonte: Ministério da Cultura