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UMA FASE ANIMADA PARA LONGAS NACIONAIS

Em agosto é a vez de “Até que a Sbórnia nos separe”, rodado por Otto Guerra com base no espetáculo “Tangos & tragédias”. Em outubro, José Maia e Frederico Pinto lançam “As aventuras do avião vermelho”, garimpado da literatura de Érico Veríssimo. Em dezembro, é a vez do primeiro longa nacional em stop-motion (técnica usada em sucessos como “Fuga das galinhas”, na qual os objetos são animados quadro a quadro): “Minhocas”, de Paolo Conti e Arthur Nunes.

— Estamos em meio a um processo evolutivo de mercado na animação brasileira em que o aumento do número de incentivos ao setor estabeleceu um ciclo estável da produção. Antes, o dinheiro aparecia só vez por outra e, com isso, muito animador levava quase dez anos para levantar um projeto — diz Marta Machado, produtora de “Até que a Sbórnia nos separe”, já envolvida com “A cidade dos piratas”, também de Otto Guerra, baseado em HQs de Laerte.

Levante do realismo mágico

“A cidade dos piratas” integra um bloco de dez projetos animados em desenvolvimento para chegar ao circuito nos próximos dois anos. Somados aos quatro lançamentos de 2013, eles apontam para um boom nacional de longas animados — o primeiro do país, “Sinfonia amazônica”, de Anélio Latini Filho, foi feito há exatos 60 anos. Entre os filmes a caminho há desde superproduções como a versão do baiano Sergio Machado para a antologia de poemas infantis “A arca de Noé”, de Vinicius de Moraes, até experiências autorais de irreverência, como “Minha bunda é um gorila”, do nilopolitano Marão.

— As maiores bilheterias do mundo hoje estão com os filmes animados de estúdios como a Pixar. O único rival das animações são filmes de super-herói, um “Homem de Ferro” da vida, que vem das HQs. Ou seja, tudo está no campo do realismo fantástico. Se uma animação brasileira é acolhida pela crítica e desperta o interesse das plateias, surge uma esperança de explorar melhor esse espaço alternativo ao naturalismo em que o cinema nacional está afundado — diz Luiz Bolognesi, que dirigiu Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro na dublagem de “Uma história de amor e fúria”.

Com um visual sintonizado com a estética das HQs contemporâneas, comparado em resenhas internacionais a cults mundiais da animação como o israelense “Valsa com Bashir” (2008), o longa de Bolognesi é uma investigação da História do Brasil que se estende por seis séculos. Previsto para estrear com cerca de 60 cópias em todo o país, “Uma história de amor e fúria” começa pelo Descobrimento, narrando a paixão entre um casal de índios (nas vozes de Selton e Camila) e passa por eventos como a Balaiada e a ditadura militar, até ensaiar uma versão futurista do Rio. Roteirista de “Bicho de sete cabeças” (2000) e “Chega de saudade” (2007), de Laís Bodanzky (sua mulher), Bolognesi mobilizou uma equipe de 60 pessoas ao longo de seis anos.

— O tempo em animação tem uma lógica diferente de um filme normal — diz Bolognesi.


Idealizado há uma década, “As aventuras do avião vermelho” consumiu quatro anos de trabalho intensivo de seus animadores para ser realizado, mas estreia sem desafiar a hegemonia das animações hollywoodianas padrão Pixar.

— Não há como fazermos as mesmas estratégias deles. A saída para longas animados nacionais é explorar outros espaços, como as escolas, por exemplo — diz o animador Frederico Pinto.

Diretor de “Minhocas”, Paolo Conti diz que o aumento de séries animadas brasileiras na TV, incluindo sucessos como “Peixonauta” e “Meu AmigãoZão”, já começa a oxigenar o setor.

— Ainda que o aumento dos seriados possa desfalcar os longas ao mobilizar a mão de obra existente, ele atrai a atenção das TVs para a animação, fazendo com que os canais possam se tornar parceiros em nossos filmes — diz Conti.

Em paralelo ao filmes em curso, um intercâmbio entre o Brasil e dois polos cinematográficos dos EUA pode movimentar o mercado de animação no país: o cineasta Moacyr Góes, em parceria com Gustavo Cortês, fechou um contrato de coprodução (e troca de tecnologias) com o Studio C e a produtora Hammerhead para desenvolver longa a partir do segundo semestre.

— A ideia é criar uma via de mão dupla para os animadores — diz Góes, que dirigiu a animação “Xuxinha e Guto contra os monstros do espaço” (2005). — Queremos sofisticar nossa mão de obra e oferecer a ela visibilidade lá fora.

Fonte: O Globo Online

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